Nasci em 1970.Tenho 43 anos e pertenço talvez a uma das primeiras gerações que atentou para a importância do inglês como segunda língua. Meus pais estudaram francês e latim na escola.
Iniciei meus “estudos formais” no idioma da Shakespeare aos 9 anos, extremamente tarde para os padrões atuais, mas lembro de ter sido apresentada aquela nova língua muito antes, através das mãos firmes de meu pai enquanto percorríamos os corredores do Aeroporto Internacional Tom Jobim ou simplesmente Galeão, como era chamado na época.
De mãos dadas, levando ou buscando meu pai no aeroporto, com uma curiosidade do tamanho daquela que matou o gato, ia tentando imitar sua pronúncia e perguntando o significado de cada palavra enquanto ele incansavelmente explicava e ,não se contentando, ia além fornecendo inúmeros exemplos de como utilizá-las. Não, meu pai não é estrangeiro e sequer foi criado em um ambiente bilíngue. Pelo contrário aprendeu inglês já adulto quando decidiu entrar para a marinha mercante, e o fez sozinho, através de livros que lia quando estava embarcado e ao atracar nos portos praticava o que havia aprendido.
Aos poucos ele despertava meu interesse por outras culturas e com isso me deixava ver como era importante dominarmos outros idiomas a fim de que não houvessem barreiras em minha vida. Nem sei quando foi que me dei conta de que era bilíngue. Cresci, me aperfeiçoei , estudei sobre bilinguismo, pesquisei , ensinei, formei, coordenei e ano há 2 anos me vi novamente mergulhada no bilinguismo e nos processos de aquisição da linguagem, só que agora com outro olhar.
Minha primeira vez na França foi, linguisticamente falando, uma experiência um tanto quanto angustiante. Minha experiência com o inglês contribuía para que em todas as viagens eu ocupasse sempre o papel de líder do grupo, tradutora e intérprete de plantão. Entretanto, naquela viagem era diferente. Meu dicionário francês interno era mínimo e se limitava a um Bonjour , Bonsoir e C’est combien . Se por um lado meu esforço despertava a simpatia dos franceses por outro o vocabulário irrisório não me ajudava muito a entender as respostas. Passei a viagem dependendo da boa vontade do meu marido. Já tentou fazer compras dependendo do seu marido para fazer as perguntas e tirar todas as dúvidas que você tem em mente?
Na segunda vez que retornamos eu já tinha feito a lição de casa e já conhecia os números, algumas frases básicas e me peguei misturando tranquilamente inglês com francês na mesma frase como se todos fossem capazes de entender o que eu falava. Amanhã começo a ter aulas de francês e pela primeira vez vou vivenciar na prática e com olhares de professora, todas as fases pelas quais passam meus pequenos bilíngues. E pouco a pouco vou postando aqui minhas experiências sobre como é se tornar multilíngue depois dos 40.