Dados do Censo Escolar de 2009 e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tabulados pelo movimento Todos Pela Educação Todos Pela Educação, apontam que, atualmente, apenas 16,91% das crianças de 0 a 3 anos frequentam esta etapa do ensino.
A emenda 59 estabelece a matrícula compulsória na educação básica para a faixa etária de 4 a 17 anos. Entretanto,a primeira meta do novo Plano Nacional da Educação (PNE), enviado ao Congresso Nacional pelo Ministério da Educação (MEC) no fim de 2010, propõe aumentar a oferta de Educação Infantil de modo que 50% da população de até 3 anos esteja matriculada em creches. A presidente Dilma Rousseff se comprometeu a expandir a rede de creches no País, com a construção de 6 mil novas unidades até 2014. A medida ajuda mas não resolve o problema uma vez que parece não existir ainda uma política pública estruturada para atender a esta faixa.
Em meados dos anos 80, Betty Hart and Todd R. Risley , psicólogos, perceberam que alguma coisa estava errada nos programas desenvolvidos nos Estados Unidos que tinham como objetivo afastar as crianças das comunidades mais pobres da criminalidade e da pobreza.. Embora os programas fossem bem administrados e recebessem recursos em torno de 7 bilhões de dólares anuais, o impacto obtido no sucesso acadêmico de crianças entre 3 e 4 anos era muito pouco nas áreas de letramento e na ampliação do vocabulário e nenhum na área de matemática. Por mais de 3 anos observaram diversas famílias. Os pesquisadores chegaram a conclusão de que o problema estava na idade das crianças que estavam chegando ao programa muito tarde e que o governo deveria se ocupar destas crianças o mais cedo possível.
Os resultados das pesquisas mostraram que as crianças criadas em famílias onde os pais conversavam com elas, liam para elas desde cedo, crianças que eram constantemente elogiadas, estimuladas e desafiadas eram expostas a uma média de 1.500 palavras por hora a mais do que aquela criadas em famílias de baixa renda e expostas a pobreza. Ou seja, em um ano a diferença no vocabulário beirava os 8 milhões de palavras, e ao final de 4 anos, alcançava a impressionante marca de 32 milhões de palavras no vocabulário.
É claro que existem vários fatores determinantes, incluindo fatores genéticos também, mas ninguém mais duvida do impacto que os anos iniciais têm sobre o futuro das nossas crianças. De acordo com Salomão Ximenes, integrante da ONG Ação Educativa. “Há um reconhecimento, do ponto de vista do direito da Educação, de que a creche é uma etapa tão importante para o desenvolvimento infantil quanto as demais etapas da Educação Básica. Isso já foi afirmado e reafirmado no direito educacional”,
O desafio é grande pois a creche tem origem social e mesmo após ter sido considerada como uma etapa da Educação Infantil em 96,ainda é vista como algo meramente assistencialista. É preciso voltarmos nosso olhar para esta modalidade do ensino, exigir uma qualificação mínima para estes profissionais, ampliar a rede de atendimento e, sobretudo entender de uma vez por todas que sem investimento em educação básica e essencial ,qualquer ação será meramente paliativa.