Nara Vidal Hallam
Escritora,jornalista e mãe de filhos bilíngues,
Nara lança em agosto pela Editora Faces
uma série bilíngue com história para os pequenos.
O aprendizado de uma língua adicional, uma segunda língua ou uma língua simultânea, no caso dos bilíngues balanceados ou dominantes (Wigglesworth, G. Bilingualism. New York, 2007), tem vários ângulo que precisam ser considerados quando o processo de aprendizado ocorre.
A discussão e o questionamento sobre bilinguismo e multiculturalismo é um excelente ponto de partida. Às vezes nos deparamos com gênios e fenômenos e aprendem quatro, cinco, seis ou mais idiomas. Não disputo o mérito destas pessoas incrivelmente capacitadas que trabalham a memória de forma surpreendente. Aprender várias línguas é por si só, um talento raro que tem meu reconhecimento.
A minha discussão não é em relação ao número de línguas que se aprende e sim, o processo e cenário do aprendizado dos idiomas. Este processo e o cenário específico do aprendizado de línguas determinará o que eu chamo de fluência. Esclarecendo que fluência não é a capacidade de prever situações cotidianas e “se virar” dentro da previsibilidade. Fluência trata exatamente do oposto. Fluência trata da preparação completa do indivíduo em situações inesperadas, fáceis ou difíceis. Fluência é a flexibilidade e adequação do indivíduo na cultura estrangeira do seu segundo idioma.
Pergunte-se: adianta memorizar expressões, fórmulas, estruturas de sentença e falar bem uma língua, quando não existe a capacidade de compreensão da cultura, do senso de humor, dos hábitos, dos defeitos e qualidade gerais de um povo que fala a língua alvo?
Atingimos um nível bilíngue quando somos capazes de ser maleáveis e flexíveis o suficiente para entender, aceitar e até abraçar uma cultura diversa, vivendo nela e comunicando-se satisfatoriamente, para quem fala e para quem ouve. Exatamente aí é que mora a importância do multicuturalismo.
É possível abraçar e realmente entender uma cultura estrangeira? Acredito que sim. Hoje mais que nunca! Com todas as facilidades de comunicação e conexão, aprendemos a entender a espontaneidade e a forma de falar de pessoas que estão do outro lado do mundo!
Não basta então, sentar-se numa sala de aula, aprender as traduções de vocábulos, memorizar verbos e estruturas. Jogue-se lá fora, se não realmente, virtualmente! A não ser que o motivo de aprender uma nova língua seja obrigação, há várias ferramentas que antes não existiam! Troque o motivo de aprender uma língua adicional por motivação de aprender um idioma! Issa faz toda a diferença. Só assim a imersão na cultura alheia acontece, afinal motivação vem pontilhada de curiosidade, não vem?