A utilização do livro didático, principalmente na educação infantil, seja no ensino de idiomas ou no currículo regular recebe várias críticas. Algumas ,chegam inclusive a defender a ideia de que ele seja totalmente eliminado das salas de aula ou ainda que sua utilização limita e “engessa” o professor.
Falando assim, parece até que o livro didático acabou de ser inventado ou mesmo que faz parte de um complô maior para enriquecer autores e editores. Bom, a verdade não é bem esta e o livro didático foi criado justamente para garantir que os saberes e competências escolares indispensáveis a formação do aluno estivessem ao alcance de todos.Magda Soares, doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que estuda há anos a importância do livro didático no dia-a-dia do magistério e tem diversas obras publicadas sobre letramento, linguagem, leitura, escrita e alfabetização, não só defende o livro didático na sala de aula, rebatendo enfaticamente as críticas que fazem ao seu uso, como afirma que “O livro didático é necessário e eficaz, mas se deixar dirigir, exclusivamente, por ele, é renunciar à liberdade que o professor tem, pode e deve ter”.
Como educadora, não vejo problema algum na adoção de livros didáticos desde que estejam adequados e alinhados ao projeto pedagógico da escola e que sejam utilizados como mais um instrumento, uma estratégia mediadora entre o aluno e o conhecimento e sempre com uma proposta de sistematização desses conteúdos.
Como professora de inglês e consultora bilíngue, arrisco a dizer que a utilização do livro didático, leia-se de um bom livro didático, no momento, é essencial no Brasil pois fornece ao professor atividades que viabilizam sua ação docente e funcionam como suporte teórico e prático ao processo, à escola a garantia de que este professor está trabalhando e apresentando o idioma de forma correta e apropriada a faixa etária e ao desenvolvimento dos alunos, e aos pais uma referência, uma fonte de informação que disponibiliza, além de outras coisas, os conteúdos a serem desenvolvidos ao longo do ano.
A educação bilíngue e o ensino de idiomas ainda é um desafio no Brasil, embora já tenha se tornado uma realidade. Ainda hoje é possível ver anúncios e escolas exigindo “vivência no exterior” em detrimento de uma formação acadêmica. Digo, repito e afirmo, sem medo de ser feliz: FALAR inglês é muito diferente de ENSINAR inglês, ou seja, não é porque alguém tem o inglês como primeira língua ou porque morou anos no exterior e conseguiu sobreviver, estudar ou mesmo se comunicar em outro idioma, que está apto a ser professor. Fosse assim e não teríamos o menor problema para contratar professores ou ensinar a Língua Portuguesa uma vez que somos todos “nativos”.
Muitas escolas se dizem bilíngues ou oferecem aulas de inglês sem ter nenhum controle do que é ensinado aos alunos. Não é nada incomum encontrar escolas onde diretor ou coordenador não falam nenhum outro idioma além do português oferecendo aulas de inglês e programas bilíngues, sem nenhum curso ou consultoria especializada por trás. A pergunta é, quem coordena então o trabalho do professor de inglês? Quem decide, junto com o professor, o que, como e quando os conteúdos serão dados? Quem confere a proficiência e os conhecimentos deste professor?
Embora seja em casos como este que o livro didático mais se faz necessário, é justamente nestas escolas em que ele é menos adotado. E como justificativa, ouve-se o velho discurso que se inicia sempre com “somos uma escola construtivista…”