Pesquisas sobre como o cérebro se desenvolve e o sucesso de países como China, Cingapura, Hong Kong, Coréia e Finlândia que apostaram nestas áreas, e que hoje lideram as avaliações internacionais tem servido de estímulo para que vários países promovam uma verdadeira revolução no ensino de matemática.
A motivação é clara, afinal a matemática é essencial para todas as carreiras técnicas e o motor das inovações tecnológicas. A discussão chega em um momento em que o Brasil ficou em 58º lugar num ranking de 66 países-51 pontos acima do último e 419 abaixo do líder. Segundo dados do IAB, organizador do” Seminário Internacional Ensino de Matemática nas Séries Iniciais” nos dias 18 e 19 de agosto, só oito países se saíram pior que o Brasil: Colômbia, Albânia, Indonésia, Tunísia, Catar, Peru, Panamá. Sendo que nenhum deles tem uma economia comparável à brasileira em dimensões ou complexidade. Pasmem ,mas o Brasil ficou 214 pontos abaixo do primeiro colocado e apenas 35 a frente do último.
Um currículo único centrado no essencial, ordenado do mais simples para o mais complexo e professores bem capacitados, com conhecimento consistente dos conteúdos que ensinam constitui, na opinião dos quatro especialistas internacionais no assunto que participaram do seminário, a fórmula básica para um bom ensino de matemática nas séries iniciais.
Sabemos que não existe um único modelo eficiente para o ensino de matemática e que
todos dependem de professores bem preparados, mas será que não vale nem a pena observarmos o que fazem os países com melhor desempenho na área? Se sim, porque no Brasil ainda insistimos em práticas obsoletas e em achar que a melhor forma de ensinar matemática a nossos filhos e alunos é fazê-la da mesma forma em que aprendemos?
Se como pais e professores temos dúvidas, e elas são sempre bem vindas, basta pesquisarmos o que é feito em outros países para percebermos que lá o ensino da matemática é desenvolvidos em sala de aula com os alunos avançando pouco a pouco depois de consolidar os conhecimentos básicos a partir de muito exercício.
William Schmidt, codiretor do Instituto de Pesquisa Matemática e Educação Científica da Universidade Estadual de Michigan, afirma que: “Nos anos iniciais, é mais importante ensinar de forma profunda alguns poucos temas essenciais, repetindo e dando tempo para que as crianças os assimilem completamente. Assim terão alicerces sólidos sobre os quais construir os conhecimentos subsequentes, porque matemática é um edifício lógico.”
Por isso, a ordem em que são dados os conteúdos é outra questão essencial. “ O sequenciamento e o foco deve refletir a lógica interna da matemática, estimulando o raciocínio. Sem isso, a disciplina se transforma num conjunto isolado de fatos que tem de ser memorizados”, frisa Schmidt.
Para Hung-Hsi Wu, professor de matemática da Universidade da Califórnia e que há quase 20 anos pesquisa o ensino da matemática na educação fundamental e média, “Se os conteúdos não forem relacionados de forma lógica, aos dez anos muitas crianças chegam ao limite da sua capacidade de absorvê-los. O cérebro assimila muito melhor quando o novo se ancora em conhecimento prévio já consolidado”.
Segundo o belga Xavier Seron, do departamento de Neuropsicológica da Universidade Católica de Louvain, muita gente odeia matemática exatamente porque ela costuma ser ensinada como ideias isoladas, o que desestimula o raciocínio e a curiosidade. “O currículo tem de estar organizado numa ordem que facilite visualizar a lógica que conecta tudo, os conteúdos tem de ser ensinados de forma sequencial e encadeada”,
“Quando não se considera a natureza cumulativa da matemática, seu estudo degenera na elaboração de listas sem sentido e na memorização de fatos desconectados, o que prejudica especialmente os alunos com mais dificuldade”, adverte Schmidt.
Estudos comparativos mostraram que nos países com melhor desempenho em matemática o currículo dos primeiros anos se concentra em poucos tópicos básicos como: números inteiros (significado e operações), unidades de medida (1º ao 5º ano); frações comuns, arredondamento e estimativas, propriedades das operações, equações e fórmulas, representação e análise de dados e geometria (3º ao 8º ano).
Todos os pesquisadores presentes no seminário foram unânimes em afirmar que o mais importante nas séries iniciais é construir os fundamentos, fazer a criança entender a natureza do nosso sistema numérico e torná-la capaz de, primeiro, interpretar problemas e formular perguntas para, na sequência, buscar respostas e resolver os problemas.
E você- pai, professor, gestor – qual o ensino de matemática que você deseja ou oferece aos seus filhos e alunos? Escreva para a gente dizendo como é o ensino de matemática na sua escola.
Fonte:IAB