A declaração do jornalista Alexandre Garcia é de 2014,mas voltou com força nas últimas semanas às redes sociais, talvez embalada pela matéria sobre os que “fazem bico” como professores.
Lamento discordar, caro jornalista, mas professor é profissão sim! Não tenho um dom, ao contrário, tenho habilidades e competências que foram desenvolvidas ao longo de muitos anos de estudo e dedicação.escolhi a carreira do magistério assim como um engenheiro escolhe a engenharia, um médico a medicina e o advogado a advocacia.Escolhi ser professor, cursei uma universidade, me especializei, faço mestrado, investi tempo em dinheiro em cursos e livros. Não fui ungida com um “toque divino”, como pode parecer.
Segundo Lemosse e Bourdoncle(1989,1993) “[…] o profissional é considerado um prático que adquiriu,através de longos estudos, o status e a capacidade para realizar com autonomia e responsabilidade atos intelectuais não-rotineiros na busca de objetivos inseridos em uma situação complexa”
A profissionalização do professor possui várias vertentes, inclusive a que passa pelo próprio professor. Ao aceitarmos esse discurso “missionário” corroboramos com uma espécie de senso comum que valoriza mais a “vocação para ensinar” do que a ” formação para ensinar”. Se o que temos é uma “missão”, uma “vocação” então devemos permanecer firmes em nosso caminho e aceitar todas as “provações”.No âmbito do sacerdócio a que estamos então predestinados, falar em salário,necessidades ou dizer que escolheu a profissão para se sustentar é quase um pecado mortal.
[…] o profissionalismo de um professor caracteriza-se não apenas pelo domínio de conhecimentos profissionais diversos ( conhecimentos ensinados,modos de análise das situações,conhecimentos relativos aos procedimentos de ensino, etc.), mas também por esquemas de percepção,de análise, de decisão,de planejamento, de avaliação e outros,que lhe permitam mobilizar os seus conhecimentos em uma determinada situação[…] (Perrenoud,1994c)
Nos revoltamos quando lemos a manchete “Professores e garçons estão entre os bicos mais procurados”, achamos lindo e ficamos emocionados quando ouvimos que ” professor não é profissão, é missão!” e achamos um absurdo “ter que levar trabalho para casa,assistir a uma palestra no final de semana ou ter que pagar um curso”. Levante a mão o engenheiro, médico, advogado, artista, cozinheiro..que nunca levou trabalho para casa ou teve o final de semana comprometido!
Ora (direis) mas o nosso salário! Certo perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, que lutemos para ter salários iguais, mas também para sermos reconhecidos como profissionais,para que a nossa profissão seja valorizada, não porque ” toda profissão precisa de um professor”,mas porquê dedicamos tempo e estudo às nossas carreiras assim como qualquer profissional e merecemos ser reconhecidos por isso.